sábado, 3 de novembro de 2012

ORAÇÃO NO DIA DOS MORTOS



                                             Por ALEXANDRE DE JESUS em 1 novembro 2012

Senhor Jesus!

Enquanto nossos irmãos na Terra se consagram hoje à lembrança dos mortos-vivos que se 

desenfaixaram da carne, oramos também pelos vivos-mortos justam à teia física...

Pelos que jazem sepultados em palácios silenciosos, fugindo ao trabalho, como quem se

cadaveriza, pouco a pouco, para o sepulcro;

pelos que se enrijeceram gradativamente na autoridade convencional, adornando a própria

inutilidade com títulos preciosos, à feição de belos epitáfios inúteis; pelos que anestesiaram

a consciência no vício, transformando as alegrias desvairadas do mundo em portões

escancarados para a longa descida às trevas; pelos que enterraram a própria mente nos

cofres da sovinice, enclausurando a existência numa cova de ouro; pelos que paralisaram a

circulação do próprio sangue, nos excessos da mesa; pelos que se mumificaram no féretro

da preguiça, receando as cruzes redentoras e as calúnias honrosas; pelos que se

imobilizaram no paraíso doméstico, enquistando-se no egoísmo entorpecente, como 

desmemoriados, descansando no espaço estreito do esquife...

E rogamos-te ainda, Senhor, pelos mortos das penitenciárias que ouviram as sugestões do

crime e clamam agora na dor do arrependimento; pelos mortos dos hospitais e dos

manicômios, que gemem, relegados à solidão, na noite da enfermidade; pelos mortos de

desânimo, que se renderam, na luta, às punhaladas da ingratidão; pelos mortos de

desespero, que caíram em suicídio moral, por desertores da renúncia e da paciência; pelos

mortos de saudade, que lamentam a falta dos seres pelos quais dariam a própria vida; e por

esses outros mortos, desconhecidos e pequeninos, que são as crianças entregues à via

pública, exterminadas na vala do esquecimento...

Por todos esses nossos irmãos, não ignoramos que choras também como choraste sobre

Lázaro morto...

E trazendo igualmente hoje a cada um deles a flor da esperança e o lume da oração,

sabemos que o teu amor infinito clarear-nos-á o vale da morte, ensinando- nos o caminho da

eterna ressurreição.

Emmanuel

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